sábado, 3 de setembro de 2011

texto crítico - jornal



"Rosilene Fontes, com sucesso, compõe pessoas, bonecas e contos de fadas na sua parede de colagens com fotos e desenhos. De vez em quando a forma quase ofusca o conteúdo. Mas no geral a exposição minimalista é exatamente o que se precisa em uma cidade que transborda atividades culturais."

"Rosilene Fontes misturou personagens de contos de fadas como  Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio e João e Maria com crianças fantasiadas no papel destes mesmos personagens e retratos do mundo real. O resultado é uma parede cheia de sensações e de emoção."

terça-feira, 12 de julho de 2011

interagindo











instalação "insetos do espelho" - detalhes


















texto conceitual - insetos do espelho

Texto conceitual:

Encontrei em um livro uma foto de Alice Liddell, a garotinha que inspirou Lewis Carroll a criar a personagem do conto “Alice no País das Maravilhas”.  Carroll tirou esta foto quando Alice Liddell  tinha 7 anos, em 1859.  Lembrei-me de uma foto minha com a mesma idade de Alice Liddell e constatei uma semelhança incrível. A verdadeira Alice estava no conto e não naquela foto. A foto era apenas uma menina em pose, como a minha foto que também para mim era apenas uma menina fazendo pose e não era eu, pois já nem me lembrava mais da menina que eu fui um dia. 
Iniciei uma pesquisa procurando fotos da minha infância para com ela recriar personagens que permearam a minha própria infância. Nesta pesquisa, ora a fotografia me levava a procurar as imagens dos contos de fadas e que estavam na minha memória, ora as imagens dos contos me levavam a procurar fotografias em pose semelhantes. Essas semelhanças me     desdobram em vários personagens e são capazes de desconstruir não somente a aura do conto infantil, quanto a própria “espontaneidade” da minha infância.
Philippe Bruneau analisa o retrato a partir da pose e pausa. Ele cria uma contraposição entre pose / pausa e pessoa / sujeito. A pessoa seria um produto social e cultural e o sujeito remete ao corpo num sentido biológico. 
“Ao criar uma imagem ficcional, isto é, ao referir-se à pessoa, a pose permite analisar o retrato fotográfico pelo prisma do artifício, não apenas em termos técnicos, mas também pelo fato de possibilitar a construção de inúmeras máscaras que escamoteiam de vez a existência do sujeito original.”
Utilizo a auto-imagem (fotos da infância) como procedimento artístico e como meio de desconstrução da memória. Tudo parece ficção. O que quero passar adiante está além das minhas lembranças pessoais, o que fica é a memória compartilhada, mutável e transformadora. 

aluga-se no SAK



Estaremos em exposição até dia 07 de agosto na cidade de Svendborg, na Dinamarca.
Fica na ilha de Fyn, onde nasceu Christian Andersen o autor do Patinho Feio, A pequena Sereia, A Princesa e a Ervilha. O curioso é que o meu trabalho fala de fábulas e da infância.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

o diagnóstico da cigarra no mac de campinas - projeto até meio quilo

 Tenho enviado para os museus no projeto do Aluga-se - "Até meio quilo"-  a mesma obra : "o diagnóstico da cigarra", mas para cada museu a apresentação da narrativa é diferente. São experiências com o público que estou achando interessante. O texto na Pinacoteca de Santos estava longo e no Mac de Campinas separei em estrofes e as imagens das cigarras desenhei vários tamanhos até uma minúscula cigarra que desenhei com a ajuda de uma lupa. Resolvi colocar a lupa na exposição e achei que o público interagiu mais.
Neste trabalho meu desejo é dificultar a leitura e imagem fazendo uma alusão com a minha deficiência auditiva... eu não escuto tanto quanto você não enxerga este texto...







sábado, 9 de abril de 2011

diagnóstico da cigarra - para "até meio quilo" mac campinas

 No livro “Alice através do Espelho” no capítulo Insetos do espelho, há um mosquito sussurrando ao pé do ouvido da Alice. Ele fala baixinho como estas letrinhas do texto. E fica caçoando das coisas em volta e louco para que a Alice solte uma piadinha também: “Você poderia fazer uma piada com isso”, disse a vozinha ao pé do seu ouvido” 
E você não consegue ler o que está escrito neste texto? Eu também não consigo ouvir tanto quando você não enxerga o que está escrito. Sim, sou surda para sussurros assim como você é cego para letrinhas pequenas como estas. Uma amiga que entende bem do assunto, disse que não sou surda, apenas tenho deficiência auditiva, pois escuto com aparelho de ouvido. Como aquele sujeito que não enxerga sem óculos e não é cego. Aparelho de olhos é óculos e aparelho de ouvido é aparelho de ouvido, nem nome tem.



 simulação no ateliê - insetos do espelho - diagnóstico da cigarra

Aproveito "até meio quilo" para fazer algumas experiências na obra insetos do espelho. As cigarras agora estão desenhadas no papel vegetal em vários tamanhos, como aquelas letrinhas nos exames de vista no oculista. Há uma minúscula cigarra que foi desenhada com ajuda de uma lupa. O texto que falo da deficiência auditiva e visão é o mesmo que fragmentei.




Mas ter aparelho de ouvido é um luxo, custa caro. To ficando surda? Ninguém diz que está ficando cego, sim, depende dos parâmetros. Se você não consegue ler este texto você está ficando cego. Oh sim, posso aumentar as letrinhas e não vai incomodar ninguém, posso aumentar 100 vezes mais e ainda assim não incomoda ninguém. Todos ficarão felizes porque poderão ler, mas tente aumentar o som, o mais alto possível para que eu possa ouvir sem aparelho. Tudo bem, esta letrinha não é normal qualquer ser humano enxergar. Mas insetos enxergam. Eu vi outro dia, um mosquito pousado nas letrinhas. Ele também fica ao pé do meu ouvido, sussurrando, falando e ainda assim não o entendo. Não entendo a fala dos grilos, nem mosquitos e nem cigarras.  Eu só consegui entender a cigarra quando eu era criança.. Foi ela quem diagnosticou a minha surdez do ouvido esquerdo. Eu tinha nove anos e quando eu acordei escutei uma cigarra que gritava e virei a cabeça sobre o travesseiro e não ouvi a cigarra. Virei novamente e ouvi a cigarra e comecei a tampar o ouvido com as mãos, ora o direito, ora o esquerdo, ora eu ouvia, ora eu não ouvia e descobri que estava surda do ouvido do lado esquerdo. 

Segundo a organização mundial de saúde, no ano de 2005, 278 milhões de pessoas apresentavam perda auditiva moderada a profunda. É muita gente surda no mundo. Só neste ano duas amigas ficaram surdas. Duas amigas que nem se conhecem e eu conheço as duas. Simplesmente, do nada não escutavam mais de um ouvido, ou melhor, passaram a escutar somente um zumbido. Um inseto atormentando o dia inteiro, cada segundo, cada minuto, horas, todos os dias. Deus deve ter achado o máximo quando criou o inseto, tão pequeno e tão potente. Um microchip da natureza que consegue emitir sons de baixa freqüência que o ouvido humano não alcança e são capazes de ouvir melhor que muito de nós, melhor que eu. 
As cigarras, por exemplo, se protegem contra o volume intenso de seu próprio canto. Tanto o macho como a fêmea possuem um par de membranas que funcionam como orelhas. Elas são os tímpanos conectados ao órgão auditivo por um pequeno tendão que reage quando o macho canta, dobrando-os para que os sons altos não lhes provoquem danos. Nas cigarras o som se dá pela vibração das membranas do abdômen, os grilos, pelos atritos de suas asas. 
Há tantos insetos emitindo sons e nem sabemos, abelhas, gafanhotos, esperanças, mosquitos, grilos, cigarras. Parecem que ficam tentando dizer algo, talvez avisando que uma tempestade, um terremoto ou furacão está chegando e nos não entendemos. 
Tem também aquele grilo falante do Pinóquio. Insetos são aquelas vozinhas na nossa consciência, chatinhas de ouvir e que quase sempre não damos ouvidos a elas. Você conhece carrapato pólvora? Pois é, é tão pequenino que ninguém enxerga e vai engordando, tomando seu sangue e você nem percebe. Pequenino como estas letrinhas, menores que estas letrinhas que você não enxerga. Aliás, estas letrinhas podem ser um monte de insetos que você pensa que é um texto, mas não é. Eles estão quietinhos e sua vista embaralha e você pensa que é vista embaralhada e são os insetos se mexendo. Tentando dizer, cuide-se, você não está ouvindo nada. Ou melhor, não está enxergando nada. Seria melhor adotar o braile como caligrafia universal. Assim, surdos, cegos, todos conseguiriam ler. E para lembrar nem todo mudo é surdo. 

sábado, 26 de março de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011